Sonho de criança: uma história que ensina o poder da persistência

Criança tem cada uma. Dizem que certa vez, durante uma aula, um professor perguntou para uma criança: – Alberto, qual o seu sonho? A criança, sem hesitar, prontamente respondeu: – Meu sonho é voar. A sala inteira caiu na gargalhada. Desde então, Alberto passou a ser motivo de piada, o centro das gozações. Até o Pedrinho, que viera do sítio e era o mais tímido dos meninos, passou a sorrir dele com frequência. Como se não bastasse, quase todos os coleguinhas passavam por ele abanando os braços para cima e para baixo, imitando um pássaro. Pobre Alberto…

Também não era para menos. Qualquer menino daquela sala geralmente desejava ser bombeiro, policial, quando muito advogado, aqui e acolá aparecia um candidato a médico. O sonho de qualquer menina da turma era casar, ser dona de casa, aprender o ofício de costureira, aqui e acolá aparecia uma mais liberal querendo ser professora. Mas, sinceramente, voar era algo que ainda não passara pela imaginação fértil de nenhuma criança daquela sala. Nem mesmo pela cabeça do Eugênio, o CDF da turma. Daí o motivo de tanta algazarra.

Mas a cabeça do Alberto era uma caixa-preta. Blindada. As brincadeiras pareciam não atingi-lo. Alheio às gozações, ele seguia firme em seu propósito de desbravar o espaço sideral, como se nada estivesse acontecendo ao seu redor. Volta e meia era flagrado desenhando uma máquina voadora em pleno intervalo das aulas. Sabia o nome de todos os planetas, antes mesmo de ter aulas de Geografia. Aguardava com ansiedade as aulas de Educação Artística, onde literalmente dava asas à sua imaginação.

Nas aulas de Educação Física, enquanto todos brigavam para jogar futebol, ele preferia soltar pipa. Vai entender a cabeça de uma criança. E quase sempre fazia isso sozinho, isolado em seu universo particular. Ao ver a pipa subindo, tremulando ao vento, seus olhinhos brilhavam, deslumbrados, a boca esboçava um sorriso tímido, denunciando um ar de contentamento, como se ele estivesse alçando voo no lugar da pipa.

Enfim, o tempo passou. E, de fato, como sonhado um dia, muitas crianças daquela sala tornaram-se bombeiros, policiais, advogados, médicos, donas de casa, costureiras, professoras… Agora todos eram adultos felizes, pois, conseguiram, com algum esforço, concretizar exatamente aquilo que sonharam quando crianças. Bem dizem que você é do tamanho do seu sonho.

O final dessa história todo mundo já conhece. O Alberto continuou com a sua persistência e, mesmo depois de adulto, seguiu afirmando até para as paredes que queria voar. As pessoas, lógico, continuaram sorrindo dele. E ele continuava ignorando. Perseguindo incansavelmente seu sonho de criança, viajou para a França, onde se tornou mundialmente conhecido como Alberto Santos Dumont, o homem que inventou o avião. E ninguém mais teve vontade de sorrir dele, ao contrário, o mundo inteiro agora o admira.

Por Enaldo Francisco da Silva, professor de Filosofia e Sociologia do Colégio Platão

 

 

 

 

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