A escola perfeita para nossos filhos

Quem me conhece sabe que, embora trabalhando há 18 anos na rede particular, sou filha da escola pública. Uma escola pública à qual sou muito grata e da qual guardo boas lembranças. E, de 1980, quando ingressei na 1ª série do antigo primário, até 1990, quando concluí o Magistério,  estudei em apenas três escolas. O motivo da transferência da primeira para a segunda foi a mudança de endereço da minha família e, da segunda para terceira, o fato de esta oferecer o curso de Magistério. Portanto, meus pais nunca precisaram quebrar a cabeça no momento de escolher a instituição onde eu estudaria.  Mas o mesmo não acontece com muitas famílias cujos filhos fazem parte do universo da rede particular e que, em determinada época do ano, começam a maratona de visitas em busca de uma nova opção. Sobre essa escolha, pesam alguns pontos importantes.

O primeiro deles é realmente conhecer de perto a escola, ao vivo e em cores.  Não se pode imaginar que um adulto vá pautar sua decisão a partir de telefonemas que possam apenas lhe indicar valores de mensalidade. Por mais que haja indicação de amigos, nada substitui uma boa visita. Conversar com os responsáveis, observar detalhes da estrutura, fazer todas as perguntas necessárias sobre a proposta pedagógica, constatar se há entrosamento na equipe, desde quem está na recepção até os gestores. Se um colégio faz propaganda que desenvolve espírito de equipe entre os alunos, parece óbvio que isso esteja evidente entre os próprios funcionários. Uma instituição séria mostra na vida real o que as propagandas tão lindamente representam na tevê, no outdoor ou na revista.

Outro aspecto relevante é se informar sobre o valor dado à Cultura. Se há projetos e eventos dedicados à pintura, à literatura, à música, à dança, ao teatro. Às vezes criticamos tanto a falta de investimento do Estado nesses aspectos, mas nos esquecemos de que cada escola, de acordo com sua realidade, pode sim criar possibilidades de oferecer esse rico universo a crianças e a adolescentes. Quem vive durante a infância e a adolescência experiências ricas nessa área certamente se tornará um adulto mais sensível e com mais capacidade de compreender o mundo.

E a valorização do esporte? Como a instituição trabalha o diálogo entre o corpo e a mente? Os pais precisam perguntar como se dá esse processo e quais são as modalidades disponíveis. Conforme as crianças as experimentam, acabam se identificando com alguma em especial e podem se aperfeiçoar. Uma escola de qualidade reconhece o profissional da Educação Física como essencial ao processo de aprendizagem e sabe que os benefícios vão além das quadras.

Se os filhos são o tesouro mais precioso dos pais, é necessário que eles sejam mesmo criteriosos na escolha. Uma orientação que pode fazer a diferença no momento da decisão é questionar se professores e funcionários irão, com o tempo, tratar os alunos pelo nome. Parece um detalhe, mas não é. É uma questão de identidade. Quando crianças e adolescentes se sentem reconhecidos pela sua história ficam mais à vontade e melhoram sua autoconfiança. Nesse clima, aprender fica mais fácil. Quem sabe até prazeroso.

Para as famílias que creem na força do exercício da autoridade, é bom averiguar se a instituição tem regras claras e se os adultos são responsáveis ao cobrar a disciplina. E disciplina não tem a ver com obediência canina, como a nossa geração dos anos 80 aprendeu. Ser disciplinado na escola é compreender que viver em coletividade exige respeito ao próximo e cumprimento de normas. Há colégios por aí que fazem vistas grossas e praticamente deixam o aluno no comando. Parece um sonho de consumo estudar em um lugar assim quando se tem 15 anos, por exemplo, mas sabemos bem as consequências na vida de alguém que cresce sem a percepção de limites.

Por fim, um aspecto igualmente relevante: aos pais que forem escolher uma escola para o filho adolescente, é bom lembrar que existe vida além dos resultados em vestibulares.  Naturalmente a aprovação nesses concursos é um sonho de consumo, até porque sair do Ensino Médio direto para a universidade, sem necessidade de fazer cursinho, é um projeto possível. Entretanto, focar apenas nos números, fazer deles a causa da vida escolar do jovem não é uma opção sensata. O adolescente precisa ter acesso ao conhecimento, mas também precisa de formação humana.  Responsabilidade, socialização, autonomia e respeito pelo outro precisam estar na prática diária. Na sala de aula e fora dela. Porque, antes de ser um aluno, é uma pessoa. E merece um lugar em que seja respeitado como tal. Os bons resultados serão uma consequência natural.

Matricular nossos filhos para um novo ano letivo é ação de grande responsabilidade. É claro que a questão financeira também influencia, mas não se negocia a educação de alguém como quem compra um terreno. E, se a escola é mesmo a segunda casa deles, é preciso pensar bem antes de escolher o lugar onde  irão passar as fases mais inesquecíveis da vida.

(Por Lu Oliveira)

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