Alfabetização e letramento apresentam conceitos diferentes, mas são trabalhados simultaneamente na escola

O ano letivo começou e é preciso incluir na rotina conversas com as famílias, que sempre estão cheias de perguntas a respeito do processo de aprendizagem dos filhos. Elas querem saber, por exemplo, se o filho está aprendendo a ler e escrever a contento. A preocupação dos pais é sempre saber quanto ao tempo de alfabetização das crianças.

Desde a Educação Infantil existem essas indagações por parte das famílias sobre o desenvolvimento dos seus filhos quanto ao processo de alfabetização, que precisa ser olhado com toda atenção. O processo em si depende de estratégias em longo prazo para resultar na assimilação das letras com as palavras, associando esses sinais com a sonoridade. Enfim, nota-se uma ligação complexa e que deve ser desenvolvida.

As pesquisas neurocientíficas apontam que, aos 6 anos de idade, a criança já pode ser incluída no processo sistemático de alfabetização. Importante ressaltar que esse processo é concluído lá pelos 7 anos e meio, 7 anos e 8 meses.

O processo de aprendizagem é individual. Apesar de os professores darem várias orientações coletivas em sala, a trajetória de cada aluno é singular. A idade para alfabetização acontece porque nesse período a criança está mais apta às habilidades de leitura e escrita. Tal estratégia vai coroar toda a estimulação do desenvolvimento dessa criança, que inicia desde o seu nascimento.

Como dito acima, o processo de alfabetização é algo que depende de pontos estratégicos. Portanto, é importante que haja essa preocupação com o ensino que se dá aos alunos em toda a sua trajetória na Educação Infantil, tendo em vista o conjunto de habilidades que é desenvolvido, o que possibilita o domínio do aluno em alguns quesitos.

Hoje falamos não só sobre a alfabetização em si, mas também falamos muito sobre letramento. E o que significa falar sobre isso aos pais?

Segundo Magda Soares, pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da UFMG, a palavra letramento começou a ser usada a partir do momento em que o conceito de alfabetização tornou-se insatisfatório. Não basta mais saber ler e escrever tão somente, é preciso saber fazer uso da leitura e da escrita. Desde que as sociedades tornaram-se cada vez mais centradas na escrita e multiplicaram-se as demandas por práticas de leitura e de escrita – não só na cultura do papel, mas também na nova cultura da tela com os meios eletrônicos -, é insuficiente ser apenas alfabetizado.

Atualmente o letramento é termo cada vez mais usado no Brasil e, segundo Magda Soares, letramento e alfabetização são dois processos que devem ser trabalhados simultaneamente na escola, mesmo apresentando conceitos diferentes. A pesquisadora aborda o letramento relacionando-o à compreensão de leitura e escrita como práticas sociais, privilegiando a prática da língua portuguesa no nosso cotidiano. Já a alfabetização está relacionada às regras gramaticais ou da relação da escrita como código, sendo necessário decifrar.

Podemos definir letramento como sendo o estado em que vive o indivíduo que sabe ler e escrever e exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive: ler jornais, revistas, livros, saber ler e interpretar tabelas, quadros, formulários, sua carteira de trabalho, suas contas de água, luz, telefone, saber escrever e escrever cartas, bilhetes, telegramas sem dificuldade, saber preencher um formulário, redigir um ofício, um requerimento etc.

A alfabetização e o letramento se somam, são complementos. Enquanto que “alfabetizar significa orientar a criança para o domínio da tecnologia da escrita, letrar significa levá-la ao exercício das práticas sociais de leitura e de escrita”. Alfabetizar significa levar a criança a entender que o som ou o que falamos podem ser transformado em tracinhos no papel. Esse é o ponto-chave.

Quando falamos em método de alfabetização hoje, temos que considerar todas as teorias linguísticas, psicogenéticas e articulá-las, porque a criança vivencia tudo isso ao mesmo tempo quando está aprendendo a língua escrita, e neste contexto todo sempre somos questionados sobre qual método usamos para alfabetizar.

E respondo essa questão com a própria fala de Magda Soares que diz: “a questão não é ter método para alfabetizar. A questão é alfabetizar com método. E alfabetizar com método exige o conhecimento de como a criança aprende cognitivamente, como se dá o desenvolvimento psicogenético, em que momento você pode entrar com cada um dos aspectos da alfabetização, o que é esse objeto linguístico”, sempre considerando o processo de letramento neste processo.

Por Maria Lucia Zapata, Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil ao Fundamental II

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