Adultos precisam orientar adolescentes sobre riscos do álcool e da banalização da sexualidade

Quando sou chamada para conversar com pais, minha fala está pautada na experiência que tenho como educadora. Há mais de 20 anos sou mãe e professora. Não tenho a pretensão de oferecer à plateia fórmulas, segredos ou receitas. Fórmula é para remédio, segredo, para cofre e receita, para bolo de chocolate. Quem vende a ideia de que existem, por exemplo, “Dez passos para educar” e oferece garantia de sucesso está praticando charlatanismo.

Cada realidade familiar é única. Como ousar dizer “faça isso, aquilo ou aquilo outro e seus problemas acabarão”? Não sou adepta de soluções Tabajara, principalmente quando o assunto é a educação de uma criança ou de um adolescente. Costumo deixar claro, logo no início de qualquer palestra, que possivelmente meus ouvintes voltem para casa com mais perguntas que respostas. Há inclusive um comercial na TV o qual diz que as perguntas é que movem o mundo. Concordo. Respostas prontas podem até acalmar nosso coração, mas a sensação é efêmera. Não tarda e percebemos que aquela “verdade” não se encaixa em nossa história.

Por isso, como educadores, quanto mais nos inquietarmos, melhor. A reflexão e a busca por respostas nos deixam sempre em alerta. Mas não culpo quem sinta necessidade de uma orientação. Vinda de um profissional, de um livro, de um amigo. Muitos pais e mães, vez ou outra, sentem-se perdidos e precisam de uma  bússola. Ao não exercer a autoridade que lhes cabe, perdem o controle da situação e, no auge da crise familiar, pecam pelo excesso: protegem muito, cobram muito, permitem muito. Mas
educam pouco. E educar é mesmo uma tarefa difícil, mas fascinante. Até sagrada.

Por isso fico tão triste quando certas notícias vêm à tona. Vez ou outra, por exemplo, ficamos sabendo que bebida alcoólica foi distribuída à vontade para menores em uma festa de 15 anos. Imaginar álcool em uma festa na qual também haja adultos não causa espanto. Nessas situações, é de se esperar que sejam eles os responsáveis por não permitir que a molecada se divida entre brigadeiros e copos de cerveja. Entretanto, ao incluir voluntariamente a bebida alcoólica no cardápio dos adolescentes, esses adultos provam não entender a missão que lhes foi confiada. Esse (mau) exemplo só ratifica minha tese: às vezes, a presença é mais nociva que a ausência.

De forma absurdamente hipócrita, os mesmos que acham natural um menino de 15 anos tomar vodca em um aniversário serão aqueles que ficarão comovidos e revoltados quando um motorista embriagado atropelar quem estava esperando o ônibus na calçada. Ou talvez se digam de queixo caído ao saber que um adolescente amanheceu na sarjeta depois da balada,
de tanto beber. “O mundo está perdido mesmo”. Não. O mundo está no mesmo lugar. Perdidas estão as pessoas.

Mas o álcool não é único fantasma a rondar e a seduzir a meninada. A sexualidade desregrada também preocupa os adultos responsáveis. O problema não é o sexo, mas a precocidade e a banalização. Sem instrução, sem cobranças, envolvidos pela intensidade natural da faixa etária, meninos e meninas se entregam sem responsabilidade aos prazeres da carne. Aí, quando vêm as gravidezes e as doenças sexualmente transmissíveis, alguém, com cara de paisagem, dirá “aconteceu”.

As propagandas de cerveja, além de pessoas bonitas e em constante alegria, obrigatoriamente apresentam o slogan “aprecie com moderação”, que é um belo eufemismo para “não encha a cara”. Eu nem aprecio bebida alcoólica. No meu caso, essa frase
precisaria vir na embalagem de café. De qualquer forma, quando o assunto é educar, bom mesmo é não ter moderação alguma. Quanto mais, melhor.

Por Lu Oliveira – Professora de Redação do Colégio Platão 

 

 

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