Você sabe onde seu filho está?

No último fim de semana, em um passeio pelo shopping, vi um grande banner com a pergunta  “você sabe onde seu filho está?” e a frase mexeu comigo. Acho esse tipo de ação relevante e, ao mesmo tempo, preocupante. Considero muito triste imaginar que um pai ou uma mãe possam não saber onde o filho, menor de idade, esteja. Infelizmente, isso é mais comum do que se imagina. Pelos mais variados motivos, meninos e meninas com menos de 18 anos nem sempre contam à família o que vão fazer quando saem de casa, tampouco com quem.  E, como não impuseram os limites necessários durante a infância, na adolescência os pais ficam reféns da boa vontade dos filhos. Quando eles não estão a fim, as explicações ficam pela metade e os adultos ficam sem saber ao certo o que a noite – ou o dia – prometem.

E é claro que o álcool é um dos principais ingredientes desses programas da meninada. Alguns adolescentes, inclusive, defendem a tese de que é impossível haver diversão em uma festa na qual não tenha bebida alcoólica. Mas não pouca bebida. Muita, de preferência para que todos fiquem “felizes”, só para usar um termo comum entre eles. Como adulta responsável, não consigo encarar essa postura como natural. Também não acho graça de quem, gargalhando, argumenta que festa boa é festa com gente bêbada. Se há apenas maiores de idade envolvidos, a questão incomoda também, mas é menos alarmante. Entretanto, quando se sabe que meninos e meninas de 14 ou 15 anos, por exemplo, já têm o álcool como companheiro de diversão,  a luz vermelha se acende.

Há quem me rotule como exagerada por pensar assim. Mas eu ainda prefiro me sentir no que chamo de “efeito piracema”.  Muitos estão indo na direção contrário à minha.  Quantos pais e mães são os primeiros a oferecer bebida alcoólica a seus filhos? “Eu também bebia com 15 anos. Qual o problema?”.  O problema é que o álcool é uma droga, apenas com a diferença de que é lícita e cultuada socialmente. Associado aos prazeres da vida, ele serve de pretexto para as mais diversas situações. Mas é claro que o problema  não é o mero consumo da cerveja e/ou da vodca. O problema é a dependência e todas as suas consequências. Físicas, emocionais, mentais, sociais. Vamos combinar que a frase “aprecie com moderação”, obrigatória em campanhas publicitárias, não passa de um eufemismo sem maiores efeitos. Álcool e juventude nem sempre formam uma dupla que consiga deixar o equilíbrio e a sensatez em primeiro plano.

Sinceramente, julgo ser uma grande irresponsabilidade um adulto, em sã consciência, promover festas para menores de idade e não se importar com o consumo da bebida alcoólica. E pode ser uma festa nos fundos de casa, com meia dúzia deles ou um aniversário de 15 anos, com uma centena. O erro é o mesmo. Se existe uma lei criminalizando a venda para menores de 18 anos, considero igualmente criminosa a oferta da bebida em um evento. Qualquer argumento para justificar essa irresponsabilidade não passa de desculpa esfarrapada.

Por isso, como em tantas outras situações, cabe a pais e mães a tarefa de orientar e – por que não? – monitorar os programas dos filhos. Há uma festa no fim de semana e o menino tem 16 anos? Pois bem. Antes de consentir, o mínimo que se espera é que o adulto busque informações com outros adultos sobre isso. E, se preciso for, ao levar o garoto entre no local do evento para atestar a veracidade delas. “Que mico, pai!”. Que seja. Meus filhos já sabem disto: o dia em que acharem que eu não posso entrar em uma festa eles entrarão de volta no carro e a festa será em nossa casa, até com direito a brigadeiro e tubaína. Essa é uma tarefa difícil, mas não chega a ser impossível. A não ser em famílias cujos pais já se deixaram dominar pela prole.

Afinal, saber onde o próprio filho está não é motivo para aplauso ou medalha de honra ao mérito. E nem precisaria de campanha para lembrar. É o mínimo que se espera de quem escolheu perpetuar a espécie.
(Por Lu Oliveira, professora de Redação)

 

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