Mais que uma profissão, a docência é uma missão

Quinze de outubro é aquela data que nos faz ficar com vontade de manifestar nossa gratidão aos homens e mulheres que nos ajudaram a escrever nossa história. Ou que ajudam ainda. Aliás, penso que gratidão seja o sentimento mais adequado para manifestar a um mestre. Mesmo sendo uma profissão, a docência é mais que um ganha-pão. Ser professor é sim assumir uma missão. Uma missão que faz diferença na vida das pessoas que passam por ele. Às portas dos 46 anos, olho para trás e vejo muitos professores aos quais sou grata. É fato que não me lembro de todos com os quais tive aula, mas, de alguma forma, a sementinha plantada pela maioria ainda está aqui. Mas é não é mais uma semente, é claro. O que ficou dela foram os frutos. Hoje tenho orgulho de também ter abraçado a profissão e  tenho consciência do meu papel na vida dos meus alunos. É claro que homenagens e presentes afagam o nosso ego, mas bom mesmo é ter a convicção de que deixar uma marca indelével em cada adolescente.

E, recentemente, um episódio serviu para reforçar essa minha teoria. Quando possível, gosto de, durante os intervalos, ficar no pátio com a meninada. Dia desses, por exemplo,  abracei vários alunos e pra um disse “eu gosto de colher abraços porque vocês são as flores do meu jardim”. Frase meio piegas, é verdade, mas quando vi as palavras já tinham saído do coração. Aí ouvi “e você nos rega pra gente crescer”. Achei a reflexão muita verdadeira e senti sinceridade nela. Creio mesmo que todo professor possa ser um “regador de gente”.

A expressão pode parecer pretensiosa, mas tem fundamento. Em sala de aula e também fora dela, podemos contribuir com a formação de uma pessoa. Sei que há colegas de profissão que creem ter apenas a função de transmitir conhecimento e ficam limitados aos seus conteúdos específicos, mas desde quando fiz minha estreia no tablado, há mais de 20 anos, sempre acreditei ser possível fazer muito mais que “dar aula”. Isso não significa influenciar em valores familiares, por exemplo, ou pretender moldar uma criança ou um adolescente à nossa imagem e semelhança. Ser professor, em minha concepção, é fazer de cada contato com o aluno uma oportunidade de refletir sobre as pessoas, sobre o mundo. É também ajudá-lo a pensar – ou repensar – suas escolhas a partir da análise das consequências. Mesmo quem trabalha com alunos adultos pode ajudar nesse processo. Quantos marmanjos já foram influenciados positivamente por seus mestres na faculdade?

Mas é claro que nem sempre veremos nosso trabalho dar frutos em curto prazo. Às vezes recebemos a maçã do dia de forma instantânea, como no momento em que ouvi meu aluno dizendo que eu os rego para que eles cresçam. Mas pode ser que encerremos nosso ciclo de contato com alguns e ainda não tenhamos percebido mudanças significativas em condutas negativas. Todavia, a vida é melhor professora que todos nós juntos. E, mais cedo ou mais tarde, escancara aquilo que o adolescente, por exemplo, teimava em não perceber.  E a maturidade me fez compreender que o importante é estar com meus alunos e lidar com eles com afeto e autoridade. Se mesmo assim eu não me sentir vitoriosa, na aprendizagem ou na nossa relação, preciso acreditar que não existe “caso perdido”. Desistir de um aluno é triste e acontece muito por aí. Há momentos em que a vontade pode até bater à nossa porta, mas, bons jardineiros que somos, precisamos retirar a erva daninha e cultivar nossas plantinhas.

Hoje recebi algumas mensagens. De alunos, de ex-alunos. Fico feliz quando isso acontece, mas o mais sublime da minha profissão é contemplar o jardim. Todos os dias do ano.

Por Lu Oliveira – Professora de Redação do Colégio Platão

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