Empatia e tolerância nas relações familiares são fundamentais durante período de isolamento social

Não foram necessárias nem duas semanas completas de isolamento social para as famílias sentirem na pele as exigências da convivência 24 horas. Com raríssimas exceções, temos em nossos familiares próximos a perfeita representação das pessoas por quem temos mais afeto. Entretanto, nunca em nossa história nos foi exigido que passássemos tanto tempo ao lado deles.

Mesmo aqueles que, por opção, ocupavam-se apenas dos afazeres domésticos ou os que já trabalhavam em sistema home office tinham vivido a experiência de amanhecer e anoitecer somente em companhia de quem faz parte do seu núcleo familiar. Leia-se “amanhecer e anoitecer” como a descrição de não ter alternativa a não ser dividir o espaço físico e compartilhar as atividades profissionais e pessoais.

Isso é bom? Ou é ruim? Afinal, o que estamos aprendendo vivendo em família no sentido pleno da expressão?

Nenhum de nós estava preparado para esse tipo de situação. Poucas semanas atrás, mesmo já preocupados com a transmissão do Coronavírus, a hipótese do confinamento era pouco cogitada. Portanto, virar a chave não está sendo fácil. Do dia para noite – ou da noite para o dia, tanto faz – fomos convocados a não sair de casa e, dessa maneira, pais, mães, filhos, irmãos e quaisquer outras pessoas que mantêm laços familiares passaram a viver uma nova experiência.

Pensando nas famílias com crianças e adolescentes em idade escolar, soma-se a isso tudo a necessidade do acompanhamento mais intensivo nas atividades do colégio, por hora oferecidas por meio de plataformas online. Por mais que as escolas estejam se esforçando e por mais que os professores enviem vídeos e disponibilizem materiais, é claro que não é fácil para os responsáveis administrarem todas as outras tarefas da casa e ainda suprirem a figura física do professor.

Nesse cenário, momentos de estresse serão inevitáveis. Haverá cobranças por parte dos adultos e os mais novos também terão dificuldade para entender que estar em casa não quer dizer estar em férias.

Casais que antes mal tinham tempo de trocar meia dúzia de palavras no café da manhã, que mal se viam na hora do almoço e que chegavam cansados do trabalho após o expediente, agora estão próximos o dia todo. E vamos combinar que ninguém está com clima para cenas de romantismo.

Portanto, duas palavras precisam nortear o nosso dia a dia a fim de preservar as nossas relações familiares: empatia e tolerância. Parece um clichê, mas esses dois conceitos não podem apenas enfeitar frases bonitas nas redes sociais. Colocar-se no lugar do outro e tolerar imperfeições alheias nos ajudam na convivência diária.

Por motivos óbvios, adultos têm mais compromisso nesse processo, afinal, espera-se que a maturidade fale mais alto. É sensato não esperar que uma criança de 4 anos compreenda que ela não pode mais descer para o playground do prédio sem que haja algumas crises de choro; é ingênuo acreditar que um adolescente vá, de uma hora para outra, ficar sem os seus “rolês” e manter o humor em dia. Com relação aos casais, é bom lembrar que, mesmo vivendo sob o mesmo teto e dormindo sobre o mesmo colchão, é possível dar um pouco de espaço durante o dia para atividades que não incluam o parceiro. E nunca esquecer: quem gosta de cobrança é cobrador.

Outra orientação que minimiza os ânimos mais exaltados é manter uma distância segura da enxurrada de informações e opiniões que todos dias inundam as redes sociais e tomam conta da mídia. Acompanhar os desdobramentos da situação e seguir instruções médicas vindas de fonte segura são medidas importantes, mas com sensatez e equilíbrio. Todas as faixas etárias podem ser afetadas emocionalmente com notícias que às vezes têm o único objetivo de promover pânico.

Vivemos um período de grande incerteza e, acostumados que estávamos a ter nossa rotina sob “controle”, estamos nos sentindo perdidos. Ninguém tem condições de precisar uma data para respirarmos mais aliviados, mas, enquanto a recomendação for continuar em casa, precisamos nos esforçar em manter uma boa convivência.

Afinal, não foram poucas as vezes em que reclamamos de ter pouco tempo para nossa família. Agora que temos, que tal usarmos com sabedoria?

Por Lu Oliveira – Professora de Língua Portuguesa e Assessora de Comunicação do Colégio Platão

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